Reflexões na Terra Hindu

Escrito em 6 de Abril de 2017 por Gisele de Menezes

Arrumando as anotações em um bloco de notas, aproveitando os deslocamentos pela amada terra hindu, sentindo uma alegria misturada com tristeza, ao que se poderia chamar de um misto de sensações e, vislumbrando a caminhada passada do sábio Ramana Maharish de Tiruvanamalai, encontrei uma em especial. Na terra hindu, desta vez agregada pelo período do mês de janeiro deste ano de 2017, para estudos de Ayurveda com o grupo formado pela escola na qual estou ligada, o papel e a caneta brilharam novamente aos meus olhos. Ao ler as anotações e reflexões encontradas no bloco, fui tomada pela mesma alegria que senti com a inspiração que me oportunizou escrever um livro. Escrevi o livro quando estive na sagrada Índia pela primeira vez nesta vida no ano de 2007.

A viagem seguia em direção a Tiruvanamalai no Tamil Nadu, e as reflexões nas quais costumo mergulhar por vezes se intensificaram. A maioria das pessoas dentro do ônibus dormiam, a viagem e os dias na Índia estavam intensos e cansativos. Entretanto eu, em minha bem vinda insônia diurna, encontrava o post não postado que me fazia mergulhar em novas e mais profundas reflexões. Havíamos chegado em Chennai, terra sagrada especialmente por ter sido o local aonde se estabeleceu a sede mundial da Sociedade Teosófica de Helena Blavatsky e mais outras tão importantes celebridades e santidades que influenciaram o desenvolvimento do pensamento no planeta.

Este fato, saber quem já havia circulado por aquelas terras, era motivo suficiente para ficar atenta e aberta ao que pudesse surgir naquele ponto do Planeta ou da viagem.

O cenário diferente do habitual mantinha-me acordada. O post que encontrei rascunhado falava sobre um episódio ocorrido no decorrer de 2016, em um dia como qualquer outro. Lembro que naquele dia os pássaros cantaram cedo, a chuva mansinha caiu e até abriu uma brecha de Sol quando a água celeste estiou e pôde-se sentir um vento úmido e constante limpando o início do dia. Já vi dias como aquele de 2016 muitas outras vezes e, por certo ainda verei outros, acredito!

Também, não deixando de ser irônica no que diz respeito ao “normal” ou habitual, já pintei faixas pela queda do AI5 que aconteceu em outubro de 1978, e já corri com os cabelos ao vento pelas avenidas e ruelas de Porto Alegre, especialmente em um dia tenso do ano de 1979, para não ser recolhida pelo DOPS, na Av. João Pessoa, após uma “reunião” de estudantes na UMESPA. Lembro que queriamos a redemocratização. Aquele momento foi algo como fazer parte da mudança que quase nada mudou, mas que jamais esteve inerte.

E já senti aquele aperto no peito de nada poder fazer e pouco saber que a angustia que sentia não era minha, mas do Criador em mim quando, em 13 de outubro de 1982*, as Sete Quedas de Guaíra foram temporariamente extintas do Planeta por uma hidrelétrica “promissora”. Falo assim para parecer simplista e não me estender muito. Afinal sabemos muito bem quem pensou, desenhou e criou aquela maravilha. Lembro este e outros fatos, atos ocorridos, pois temos dificuldade de lembrar que juntos destruímos aquilo tudo e seguimos indiferentes com nossa amnésia oportunista e imediatista. E apesar de tudo sigo vivendo, viverei; pretendo!

*Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade expressou sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.

Pois bem, naquele dia ao qual me referia no post que encontrei, tal como em outras mais de mil vezes, a política tomou o rumo que quis e cumpriu o protocolo dos interesses manipuladores de sabe-se lá quem ou “quems” exatamente, mas com certeza de ninguém que conheço, ninguém de quem possa eu, na minha insignificância contextual, olhar nos olhos.

Dia este como outros que, por óbvio, é berço de dias difíceis que por certo virão.

E por falar em olhar nos olhos, ainda lembro do olhar do menino que, naquela tarde, havia me pedido um trocado na sinaleira. Lembro da textura de sua mão ao tocá-la colocando-lhe na palma umas poucas moedas. Pois bem, refletindo sobre todas estas questões lembradas e não escutadas ou até esquecidas e envelhecidas me pergunto: Que País é este do qual faço parte e sequer sou escutada?

O post que achei contava sobre o ocorrido em uma reunião de bairro no final de um dia de semana. Mesmo cansada da correria do dia, preferindo descansar, feliz por ter estado, entre outros lugares, na feira orgânica de Porto Alegre, lá estava eu marcando presença no movimento comunitário. Tudo por uma causa maior – Queremos preservar um pedacinho de Terra!

Este pedacinho de terra tem aproximadamente 450 hectares, é um alagado, área de banhado sazonal, fauna e flora nativas da região – A Fazenda do Arado no extremo Sul da cidade de Porto Alegre/RS. O que está acontecendo é que opressivamente os representantes do “progresso sem ordem”, adiantados em mais um projeto milionário, querem aterrar boa parte do local e destruir toda a harmonia do ecossistema ao redor.

E farão isso por mais um condomínio de belas casa e a promessa de uma pacífica e integrada morada!

Os documentos e registros recolhidos pelo movimento de preservação, que foram apresentados na reunião e estão muito bem guardados, comprovam tristemente que, entre outras irregularidades no processo de viabilização da obra astronômica, na calada da noite de algum dia dos muitos em que a população estava distraída com algum jogo de bola bem produzido pela mídia ou alguma outra futilidade qualquer, anônimos por conveniência temporária, alteraram criminosamente os registros sobre as características do precioso local na beira do adorável e importante lago Guaíba. Isto para viabilizar a aprovação do projeto junto aos órgãos ambientais. Que horror!

Na reunião ficamos sabendo também que os políticos fizeram um “remendo” no plano diretor, sem o conhecimento da comunidade (sem consulta pública), para transformar aquela propriedade em “área urbana”, transformando ela em uma espécie de ilha no meio da zona rural do sul da capital gaúcha. Isto também para se poder aprovar o empreendimento junto aos órgãos competentes e ter as licenças necessárias para se aterrar, desmatar, etc. Afinal, sendo zona urbana pode…

Quem? Por que? Até quando?

Um empreendimento que, como um rolo compressor, quer implantar mais de 2 mil casas e outras coisas mais que sabemos vir junto com o projeto e destruir a paz e a saúde deste pequeno e ambientalmente importante balneário, que é o último pedaço intacto de natureza virgem do município de Porto Alegre. 

Bem, vamos adiante. Cada dia, dias melhores, dias piores, caminhando ao encontro de nossas ações, reações, canções. Cantarolando e pedindo Luz de consciência para melhores passos, atos, cacos…

Que todos os seres possam ser felizes, livres e que tenham Paz!

Em Amor e União

aqui compartilho este link que recebi logo após ter escrito a reflexão acima: http://www.mprs.mp.br/noticias/id43889.htm

Tags: Blog Chennai Fazenda do Arado Preservação Ambiental Ramana Maharish Salto de Sete Quedas Sociedade Teosófica

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