Quem é meu presidente?

Escrito em 09/10/2022 por Gisele de Menezes

Mais um dia nas ruas de Porto Alegre, mais um episódio da vida em um país desmontado. Meu peito dói, mas o que é essa dor comparada a dor do outro? Quanta indiferença gerada pelo capitalismo que assolou o planeta neste tempo em que ainda vivemos para ver os resultados.

Em uma manhã pós eleições presidenciais, passei pela experiência que relato aqui.

Foi em uma padaria onde tomamos um bom café e após o café seguimos para uma cidade vizinha fazer uma rotineira visita à nossa dentista.

Quantos privilégios em uma manhã, ou direitos talvez. Café, pão, manteiga, transporte, tratamento dentário… Estávamos de carro, tínhamos dinheiro para a gasolina e também para o seguro e manutenção do carro, para pagar o café e a dentista.

Direitos que outros não tem, podem ser chamados de privilégios em um sistema não comunitário. E esses direitos ou privilégios fazem parte de um ponto de vista apenas, porque se olharmos do ponto de vista da Biosfera, estamos falando de impacto.

Na padaria, pessoas tomando seu expresso, comendo suas tostadas. Na volta da padaria, que é uma vitrine com muitos vidros deixando a mostra o ambiente confortável e apetitoso, pessoas olham para dentro com fome. Naquele momento em que estávamos por ali, podíamos avistar três pessoas visivelmente necessitadas.

Dentro da padaria, haviam umas 15 pessoas. Logo fiz uma rápida conta e concluí, aqui nessa esquina temos 30% da população faminta!!!

Duas dessas três pessoas, juntaram os lixos e rejeitos da noite, pois era bem cedo, e ganharam o café da manhã em um cantinho da padaria, perto da porta de trás. O outro que chegou um pouquinho depois, era o lixo e rejeito personificados em um ser humano.

O moço tinha um tom pardo, roupa rejeitada, sujo e estava estampado que dormiu na rua, cena de tirar a fome de quem tem um mínimo de empatia. Lá de fora ele me olhou e nossos olhos se cruzaram. Costumo andar atenta, cabeça baixa porque tenho vergonha de tanta desigualdade e estou do lado dos “privilegiados”, porém no rápido cruzar de olhos, vi seu apelo, desentendimento e tristeza; e vi tudo isso naturalmente podendo transformar-se em ira, entretanto não vi força nem esperança para a necessária ira.

Me levantei, fui até a porta e conversamos rapidamente, ele estava envergonhado, mal podia discernir que a vergonha tem outra morada. Pedi que ele aguardasse e me comprometi de trazer um café quente e pão tostado com queijo, como gosto.

Virei e fui até o balcão. Uma moça já me olhava e me atendeu de pronto. Ela viu a cena e estava ligada em mim, certamente tem empatia e já sabe do que se trata. Ela realmente saltou faceira para fazer o lanche, sem me fazer explicar muito, vendo que eu estava engasgada com os olhos cheios d’água e muito triste. Ela como eu, não parecíamos orgulhosas de nada, só vergonha e compaixão em nossa recente cumplicidade.

Ela pediu para aguardar um pouquinho já iniciando o preparo e eu aproveitei para ir ao banheiro chorar um pouco. No banheiro fiquei ainda mais triste ao imaginar que o moço acordou na rua e não teve um banheiro para suas necessidades. Por fim me refiz e sai para enfrentar a situação que não me deixou oportunidade para ser indiferente.

O lanche bem cuidado e adoçado está pronto e a moça está feliz!

Pego e entrego ao moço que esforça-se para sorrir e devora o lanche do momento. Sei e ele bem sabe que terá mais um dia de luta sem sequer saber se terá outra refeição no dia ou onde dormir à noite.

Trabalho? Terão os que dirão para ele ir trabalhar e não pedir, muitos facistas e genocidas pensam assim, mas ele não tem chance nenhuma, está sujo, não tem casa, comida, roupas, não tem documentos, não tem dignidade, alegrias. Só tem o dia, mais um dia para lutar pela vida.

Me pergunto: será que ele vota? Ele e os outros 30 milhões na situação igual a dele, votam?

Será que sobreviverão a um governo das elites?

Respondo, votarei por vocês e afirmo, não quero ficar nesse País se o Lula não puder me representar.

🙏🏼

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